7.28.2020

como fred astaire

escrever-te-ei porque preciso de alivio
e dentro desse alivio juro que
escrever-te-ei sem pensar em regras gramaticais ou palavras bonitas
farei ainda do mais relaxado e sem revisões

entre mil e uma canções de amor nada se encaixou 
vi duas aulas de robótica
um documentário sobre a mente humana
procurei autores que nunca li
mas nada absteve esse lance de que enquanto faço café, quando vou tomar ele já esfriou

tomo gelado mesmo.

lembra quando falávamos: se tiver que ser na dor que seja. 

pois é. 

dividi mentalmente meus itens e o seus
entre uma separação e outra, entre a tv e os dvds, penso o quanto a mente faz doer
podíamos pensar nisso outrora, viu

parece que o talher entortou, invés de alimentar
de repente
               furei os lábios

tudo ficou do avesso 

tento aprender dança
 sempre gostei de me aprofundar em assuntos aleatórios. 
como me aprofundei em você. 

o som de aprofundar lembra tanto afundar. 

me ensina a sair da superfície? 

vejo mais 5 minutos desse documentário sem cor
o nome dele é Fred Astaire
com esse sorriso esse moço já perdeu alguém?

7.07.2020

there is no war that someone goes out without deteriorating.
the only point is that love is not made to hurt and that's why i'm asking you: let's stop hurting ourselves, let's move on without looking back.
there's something beautiful for us and I know that.
just let it be with the flow, babe.

4.24.2020

paradoxos infinitos em plena pandemia.

tentei fugir daqueles pensamentos que quando você vê, você já tá lá sem querer.

tentei perdurar o máximo que consegui a distância deles.

mas de alguma forma me arrasta.

na verdade, penso bem entre um cigarro e outro e não adianta tentar.

estaremos sempre contaminados.

são dezenas de manhãs sem ser vividas pra entender o porque da noite ser mais confortável. são centenas de goles pra não entender o porque a gente sente o que sente e vários momentos de completa quietude pra ver que o que fugimos é literalmente o que nos define.

quiçá fugimos de tudo que imprime um pouco do que a gente quer esconder.

estamos em apuros. e não cabe a mim ser salva ou salvar.

cabe á nós viver

                          &
                                sem redenção.

3.30.2020

você de novo.

eu fiquei sabendo sobre você.

sim, não vou mentir que abri um sorriso quando soube que escreveu pra mim, e se não foi, tudo bem, vou fingir que sim.

acho que teve muita coisa que não falei sobre, e talvez você precisasse saber.

eu nunca deixei ninguém permanecer muito tempo na minha vida porque tenho vergonha das minhas cicatrizes, dos meus machucados. é muito mais fácil sumir do que enfrentar, contar quem é, contar tudo que viveu.

o problema é que sinto que se um dia contar tudo o que tem aqui dentro é como se eu tivesse aberto o limbo da dor e aí eu vou chorar, e o choro pra mim é desistência, penso como se no momento que eu chorar eu tivesse desistido de mim, desistido dessa capa de forte que projetei. aí é mais fácil mentir pra mim e fingir que nada aconteceu e seguir. mas as dores permanecem aqui. cada corte, cada marca.

não é fácil explicar, escrever, imagina te dizer, frente a frente, que eu falhei mais comigo do que com você.

mas...

eu senti desde o primeiro dia que fitei você que você seria a pessoa que iria remover essa capa. que ia conseguir ler e saber de tudo o que já passou aqui.

eu fugi, claramente.

mas eu não esqueci você. todos os dias eu penso na dor que devo ter te causado por pura insuficiência de transparecer quem eu sou. eu lembro todos os dias como você me fez sentir, como se eu fosse alguém que pudesse ser amada. sentimentos não são desfeitos. então eles ficam aqui. guardados, e doem. a gente devia ter sido aquelas histórias que todo mundo ia querer ler um dia.

depois de quase um ano entendi o que a gente foi, desencontro.

a gente desencontrou em tudo. mas o tempo é rei, linda.

olha o que o tempo te fez, forte.
olha o que o tempo me fez - milagre -, sensata.

e se o tempo quiser há de ser eu e você,
uma conversa aberta,
uma amizade sincera,
amantes que nunca vão se ver de novo,
paixão pra durar,
ou só duas mulheres incríveis, que tiveram que se encontrar um dia pra se lembrar até cansar.

fica bem. não pira. o mundo há de ficar melhor, e o coração tem que estar em paz.

It’s okay if you angry
'Cause we don’t deserve all the shit we've been takin'.


1.20.2020

metanoia compulsória.

talvez nem a gente soubesse

                                           castigo.

a gente ainda sonha, ainda lembra

do gozo ao riso

do prazer ao torpor

a gente ainda pensa.

e se meu pensamento cruza o seu

a gente tá sem escape mental.

vaguidão assola, né?

o vácuo, o vazio

eu sei que você ignora,

foge.

                             entorpeceu. parece feitiço

já tentei desfazer

não vai, não vai.

ainda te procuro nas esquinas.

mas eu quero tudo, eu sempre quis tudo

alguns querem pouco.

e nessa ganância de amor,
o muito se esvazia
por quem quer pouco:                                   metanoia compulsória.

4.18.2019

Hematomas.

Achei que seria mais fácil.

Sumir, vazar e nunca mais te encontrar.

Mas a vida não perdoa, né?

Te vi. Mas você não me viu.

Sofri. Mas você tá de boa.

Quis te ligar, tava sem celular. Quando consegui, vi que não tinha mais seu número.
Fiquei por dias pensando: e se isso for um sinal? Uma proteção? Sei lá... Ás vezes tenho medo de pensar de mais, não mais do que te quero mas mais do que deveria, do que você permitiria.

Tô louca. Penso em você e fico mais louca ainda. Lembra daquele dia? É...

Não quero te prender. Mas você tá aqui, tatuada, enraizada, como aquela marca do meu pescoço.

Eu ainda quero.

Eu ainda tô aqui.

Ainda sou louca por você.

E eu que sempre tive medo, queria só ter um pouco da sua coragem, e dizer: seu banheiro ainda parece pequeno depois do dia que a gente ocupou ele inteiro?

8.06.2018

krait malasiana

senti teu toque na coxa
sua unha na minha espinha dorsal
tua boca no meu pescoço
tua perna trêmula em cima de mim

ilusionista.

tu é fake, intencional, premeditada, simulada.
ilegítima.

mas me deixa louca.
me engana.
me burla.
fradulenta.
me ilude.
e me confunde.

te tomo com toda vontade.
me engasgo e cuspo toda essa lenda.

mas insisto.

cigana, louca, simulada, fingida.

eu sei, tento jogar toda culpa em você...
recordo:
quem criou o conto fui eu.

no fundo, só queria me apaixonar, e escolhi você.